sábado, 30 de outubro de 2010

Crítica: Histórias de Canções: Toquinho



Crítica - Histórias de Canções: Toquinho


Há bastante tempo que eu não postava uma crítica literária. Não que eu tenha parado de ler. Pelo contrário, a leitura continuou, mas não sei explicar o motivo de não fazer meus comentários. Anteontem comprei um livro muito bom intitulado "Histórias de Canções: Toquinho", que foi lido compulsivamente (acabei de lê-lo ontem). O livro foi escrito por João Carlos Pecci (o irmão de Toquinho) e por Wagner Homem, como continuação da série que trata do processo de composição de algumas canções (já saíram os de Chico Buarque e de Paulo César Pinheiro). A publicação é da editora LeYa, lançado agora em 2010.

Há aquelas pessoas que, de imediato, não conseguem saber quem é Toquinho, mas basta entoar alguns versos da canção Aquarela ("Numa folha qualquer eu desenho um Sol amarelo..."), para reavivar suas memórias. Antonio Pecci Filho pode parecer um "desconhecido", mas o apelido dado pela sua mãe por ser um "toco de gente" (na primeira infância) fez de Toquinho um artista incrível, cheio de parceiros fantásticos (Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Sadao Watanabe, Francis Hime etc.), marcado principalmente pelos acordes harmoniosos no seu inconfundível instrumento: o violão. 

E, aos que não sabem, a surpresa de que a canção Aquarela, ou melhor, "Acquarello" foi criada originalmente em italiano, em 1982, numa parceria com os italianos Maurizio Fabrizio (melodia) e Guido Morra (letra). Enquanto Toquinho e Fabrizio faziam a melodia, Toquinho sugeriu que usassem parte da melodia da sua canção com Vinícius, "Uma Rosa em Minha Mão", do álbum da trilha sonora da novela Fogo Sobre Terra (1974), da Rede Globo. Fabrizio topou e, segundo o livro, em menos de três minutos eles tiveram a melodia da sua composição de maior sucesso e com repercussão mundial. Depois, Guido Morra ficou incubido de letrá-la. Após o estrondoso sucesso que fez na Itália, Toquinho resolveu fazer uma versão para a sua canção em português. Também foi um sucesso no Brasil, Argentina, França... Eu tenho, inclusive, uma versão dela também em espanhol. Certa vez, ouvi uns boatos de que existe outra versão em francês, mas nunca consegui encontrar...

O livro aborda tudo isso, com ênfase no processo "criatório" das canções, passando também por uma breve biografia do cantor, compositor e instrumentista, além de situar o leitor na época histórica em que os fatos aconteceram, com histórias muitas vezes hilárias sobre suas parcerias. É evidente que muito mais poderia ser abordado (algumas vezes o foco parece ser no nosso, agora Embaixador, Vinícius de Moraes). O livro muitas vezes limita-se a escrever apenas um parágrafo para explicar uma canção. Há a abordagem na apresentação, em algumas páginas, de parte da sua discografia (mas, pelo que conheço, muitos de seus álbuns não foram sequer comentados. Para ter certeza disso, bastou eu olhar para a minha coleção com seus CDs). Como ponto fraco, há também algumas falhas recorrentes na grafia, com erros grosseiros da nossa língua portuguesa (falta de pontuação, falta de concordância em número, inserção de letras que não existem, como no caso do colega Mutinho que, num momento virou "MuItinho"). O final, que poderia ter sido em chave-de-ouro, com os próximos passos, talvez, limitou-se a apenas um parágrafo, seguido de uma foto de contraste (com a do início do livro) de Toquinho, na idade adulta, com seus pais.

No ano de 2009, depois do show com o MPB 4, no Teatro Castro Alves (Salvador, Bahia), tive a oportunidade de tirar uma foto com essa figura fantástica que marcou minha infância (pelas canções) e que faz parte da minha "trilha sonora de vida" até hoje. 

Entretanto, os pontos fracos citados não inviabilizam a leitura da obra que é fantástica, com uma narrativa extremamente leva e empolgante, principalmente com as letras das canções que são colocadas estrategicamente antes ou após as suas respectivas explicações. Muito bom! Vale a pena!