terça-feira, 1 de março de 2011

Ensaio: Surto Psicótico



Ensaio: Surto Psicótico
Mateus Almeida Cunha



Náuseas. Além dos fatores físicos, limitadores na sua própria existência, havia uma tremenda vontade de vomitar a se próprio, de forma verborrágica e explosiva. Como um grito de socorro: um grito de independência. A plenitude da liberdade explícita. Por que o óbvio é óbvio, mas pouco se sabe ou pouco se quer saber. E, nesse momento, o vômito físico lhe surge como alternativa expressiva do próprio corpo que não se consegue libertar. Um grito no ar.

Duas da madrugada. Acorda como se houvesse dormido por toda a noite, com a sensação de cansaço físico, mas sem sono. Abre os olhos e uma surpresa: tontura, vertigens... Fecha-os novamente e suas próprias pálpebras parecem movimentar-se como círculos de um inferno dantesco que lhe faz pensar que, enfim, a loucura havia-lhe chegado. Abre os olhos novamente, enquanto passa a mão no rosto. Mal consegue coçar os olhos: suas mãos tremem, seus braços tremem e sua coordenação motora está comprometida. Dobra os joelhos para levantar as pernas que tremem como dum cansaço físico do próprio corpo que carrega. Um grande fardo a (se) suportar.

Duas e vinte. Agora lhe vem o medo de levantar, o medo de ter acordado, o medo de não conseguir dormir, o medo de não se curar, o medo da vertigem não passar. O coração começa a descompassar-se numa terrível taquicardia. Parece-lhe que seu próprio corpo sairá do corpo, como que expulso de si próprio. Vem-lhe então o súbito pensamento de que tudo aquilo não passa de um efeito psicológico. Tenta convencer-se disso, mas não há convencimento. Levanta e vai até a cozinha buscar um copo d’água. O caminho é cruel a o corredor torna-se estreito demais para a passagem. Esbarra-se nas paredes e se segura para não cair: medo.

Volta para o quarto com medo da morte, mas morte não há. Só gostaria de dormir, mas sono não há. Suores, vertigens, alucinações, tremores, temores e náuseas lhe acompanham pelas próximas três horas no silêncio frio da madrugada enquanto lembra-se do maldito remédio tomado no início da noite. Enfim, consegue dormir. Ao acordar, duas horas depois, os tremores corporais ainda se arrastam pela manhã. Mas a náusea (talvez de si mesmo) ainda lhe acompanha ao longo dos dias, até que consiga vomitar o próprio corpo numa expressão própria indizível.