terça-feira, 25 de setembro de 2012

Divagações: Expressões


A auto-censura pode não ser suficiente. Há dias em que é preciso gritar.É preciso escrever para expressar. Creio que as máximas expressões são a escrita, a pintura e a música, não necessariamente nessa ordem. Autoidentificar-se é não reconhecer-se em outrem.

sábado, 15 de setembro de 2012

Ensaio Sobre a Morte I Ou Ensaio Sobre a Morte na Era Pós-Moderna I


Ensaio Sobre a Morte I
Ou
Ensaio Sobre a Morte na Era Pós-Moderna I
 (Mateus Almeida Cunha)


Como se faz para morrer nos dias de hoje? Ninguém mais morre. Temos álbuns intermináveis de fotos digitais, com família, amigos, cachorros, gatos, coelhos, lugares, pés, para-choques de caminhões, janelas de aviões, bancos traseiros de veículos, mares, montanhas, museus, boates, Feiraguais, espelhos... Ah, as fotos nos espelhos... E são tantas! Individuais, duplas, trios, grupais, partes do corpo, músculos (tendo-os para esbanjar ou não), corpinhos gostosinhos (mesmo que se tratem de pneus bem localizados), beijos, bonés, franjinhas, dedos nos lábios... É como um Kama Sutra Ocidental moderno, como forma de autopromoção para a sensualidade (forçada) das partes (entendam: pessoas) que poderiam (poderão?) vir a se interessar.

E temos Orcutes, Feicebuques, Tuíteres, Picazas, Blogues, Instagrans, Iscúbes, Línquede-im, Dropebóxeres, Aifones, Aipedes, Uátizape. Aos que não entenderam, leia-se, necessária e obrigatoriamente nesta ordem: Orkut, Facebook, Twitter, Blog, Instagram, Skoob, Linked-In, DropBox, iPhone, iPad, Whatsapp. E temos também vídeos. Ah, sim, muitos deles! Tantos vídeos e fotos que, mesmo perdendo grande parte deles, nem sentimos tanta falta assim. Quer dizer que se os perdemos e não nos demos conta, talvez não tenham sido tão importantes assim. Teriam? Seriam?

E quem, quando morrer, lerá meus e-mails e responderá aos que (desavisadamente) ainda me enviariam coisas? A Morte talvez respondesse: “- Aqui não há mais Mateus. Agora ele não mais está. Foi um dia, mas hoje já não é. Já não está. Encontra-se noutro lugar. Assinado, Morte”. A mesma Morte com eme maiúsculo, como narrou Saramago. A mesma Morte capaz de se apaixonar pelo seu alvo. Apaixonaria-se a morte por criaturas mundanas e deixá-la-ias viver para a eternidade, até que seus corpos definhassem e vos clamasse que findasse suas vidas?

Hoje já não se morre, com tanta tecnologia. Hoje já não se consegue sentir tanta saudade. Sente-se? Para os (ainda?) vivos, há celulares e internets com webcams para aproximar aquilo que a saudade quis que os corpos não se soubessem... não se tocassem. Não se sentissem. Mas, ainda assim, sentem-se. É bem verdade o que escreveram soube a saudade: que quem inventou a saudade não conhecia a distância. Talvez não conhecesse também o tempo. Esse tempo (cruel) que passa e nos faz envelhecer. Esse mesmo tempo crudelíssimo que nos (re)forma (ou deforma?) ao longo dos anos. Esse mesmo tempo que, após a juventude – nossa idade fértil – faz com que a beleza se esvaia. E isso dói. É aquilo que, com o espelho, vemos degradarmo-nos. Vemos nossa figura enrugar-se, encurvar-se, como num ato simbólico, diante do Senhor Tempo, como que reconhecendo a sua superioridade. “ – Sim, Senhor. Morreremos. Não, não senhor, não o gostaríamos, mas se for da nossa vontade, iremos acostumarmo-nos com a degradação de nossas figuras”. Ah, o tempo... Por que não nos carregas em seus braços e nos acalanta? Mas parece empurrar-nos de um penhasco diante de lanças cobertas de sei lá o quê. Parecem inofensivas, mas, por baixo delas há o que fere. Mas, o que temer, se nossas figuras ainda parecerão jovens diante dos que ficam? E esse tempo que passa verazmente a nos atormentar?   Que me venham, então, a morte e o tempo. Este, antes daquele, pois ainda há muito que viver. E, como se costuma dizer, “só nos resta viver”.


Madrugada (insone) de 14/15 de setembro de 2012.

domingo, 20 de maio de 2012

Poesia: Cantiga Para Não Morrer [Ferreira Gullar]

Cantiga Para Não Morrer
[Ferreira Gullar]
 
"Quando você for se embora,
(...)
me leve

Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
(...)
me leve no coração

Se no coração não possa
por acaso me levar,
(...)
me leve no seu sonhar

E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
(...)
me leve no esquecimento"
[excerto de "Cantiga Para Não Morrer", de Ferreira Gullar]

Poesia: Sobre a Saudade X

Sobre a Saudade X
[Mateus Almeida Cunha]



O Sol já se pôs meu bem

        E você não vem...

É tão tarde!

        E amanhã também,

você não vem?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Poesia: Sobre a Saudade VI



Sobre a Saudade VI
[Mateus Almeida Cunha]


Saudade, saudade,
uma ausência de verdade
ou uma pseudo-solidão?

Saudade, saudade,
um não completar-se de
não tão rara emoção

Saudade, saudade,
embora pareça eternidade
nada mais que sensação

Saudade,
de pensamento de outrem,
solidão

Saudade,
de tanto corroer-se em
emoção

Saudade,
Uma indescritível
Sensação

De tanta dor,
Silencia-se

Poesia: Sobre a Saudade V


Sobre a Saudade V
[Mateus almeida Cunha]

“De repente, nunca mais esperaremos”
De repente, nunca mais seus olhos a me penetrarem
De repente, nunca mais sua voz a me chamar
De repente, nunca mais seus lábios nos meus
De repente, nunca mais sua mão macia sobre meu corpo nu
De repente, nunca mais seus seios em minhas mãos
De repente, nunca mais estaremos

De repente, se acabou
De repente, sua ausência
De repente, se finda uma vida
De repente, a solidão 
e
De repente, se acostuma
De repente, se solidifica
De repente, se petrifica

De repente, não tão de repente
De repente, outro amor
De repente, outra dor
De repente, não se acostuma
De repente, não mais se satisfaz
De repente, outra separação
De repente, “tudo dói”        



[Citações: 
Vinícius de Moraes, "Poema de Natal"
Caetano Veloso, "Tudo Dói"]

Poesia: Tarde em Mangue Seco

Tarde em Mangue Seco
[Mateus Almeida Cunha]



Mar, maresia, uma miragem.
A água salgada sob o Sol reflete o dia
em movimento com as ondas a nos embalar
e transcender à paisagem estática
que lentamente carrega as nuvens que sombreiam os corpos seminus
que sentem a fina areia fria sob os pés descalços.
Percauços.

As ondas, de espumas brancas,
misturam-se em cores com o azul-marinho
e dissolvem as esculturas de areia
que as crianças formam, tao disformes,
ao longe, ao mar,
Ah, amar

As esculturas

estão constantemete a desconstruirem-se,
com o embalo sutil das ondas
que lhe levam sua matéria-prima,
areia

Não há relógios a contar o que está a ocorrer,
cujo tempo parece permanecer estático, nulo, único,
para deleitarmo-nos, enquanto carros e assaltos e motos e bancos e lojas e avenidas

enchem as cidades que fugimos.



[Feito em Mangue Seco, numa tarde na praia]



sexta-feira, 6 de abril de 2012

Poesia: Sobre o Amor I




SOBRE O AMOR I
[Mateus Almeida Cunha]


Na vastidão da plenitude,
o amor

Aquilo que nada se sabe.
Aquilo que tudo se sente.
Aquilo que nada ressente.

Na imensidão da quietude,
o amor

Aquilo, de dentro, emoção.
Aquilo que poucos sentirão.
Aquilo que vibra, pulsação.

Entre poucos, se ama.
Na amplidão, o amor não trai.

Entre tantos, se ama.
Na amplidão, o amor não se esvai.

Entretanto, se ama.
Na amplidão,
 o amor .