segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Poesia: Poema de Natal (Vinícius de Moraes)

POEMA DE NATAL
(Vinicius de Moraes)


 

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.







Há quem diga que Vinícius [de Moraes] foi "apenas" poeta, diplomata, escritor, compositor, músico... mediano (entenda "medíocre"), mas isso é uma falsa verdade. Há ainda quem o critique por ter "vulgarizado" sua poesia, ao se dedicar mais à composição das suas músicas.

Vinícius foi um grande gênio da humanidade, que deixará um legado de, no mínimo, dezenas de dezenas de (excelentes) sonetos além de maravilhosos outros poemas que cultuam (*ou cultivam, posto que a língua portuguesa nos permite muitas vezes a fazer esses trocadilhos) o amor, a beleza da vida e também em diversos momentos, o existencilismo. E tivemos o privilégio de ter esse gênio no nosso país: mais uma personalidade para o Brasil (ou melhor, nós) se orgulhar (nos orgulharmos).

É estranho se pensar que alguém que diz "Eu sei que vou te amar, por toda a minha vida eu vou te amar" tenha se casado por nove vezes... Mas o mais importante mesmo é a intensidade em que vivia cada amor, cada mulher.