Às vezes, penso em como poderia ser o mundo sem a existência das máquinas. Não máquinas como se costuma pensar nos filmes futuristas, mas máquinas comuns, coisas corriqueiras: computador, telefone, celular, televisão, câmera digital, rádio, automóveis, chuveiro elétrico, máquina de lavar roupas, relógio etc. Isso parece ser inimaginável e, de fato, é. Parece que tudo que poderia ter sido inventado já o foi até o final do século XX e, a partir de agora, só nos resta re-inventar... aperfeiçoar... dar melhor utilização... enfim...
Deve ser assustador se, um dia, ao levantar percebermos que não há mais como saber as horas pelo método "convencional" (ou tradicional: o relógio), pois ele não mais funciona. E aí, adeus compromissos: festas (casamentos, aniversários, batizados), aulas, trabalho, encontros com amigos ou romances. Catástrofe total!
Adeus também notícias pela televisão, rádio, internet... estaríamos ilhados. Destinados à própria morte, já que nem os aparelhos dos hospitais seriam capazes de funcionar. Se alguém adoecesse gravemente? Morte na certa... E a "cegueira" parcial que haveria? Qual máquina seria capaz de produzir as lentes dos óculos? A visão do/de mundo para grande parte da população mundial estaria fadada a mudar, adaptando-se ao seu novo "foco". Qual foco? A distorção, posto que só ela reinaria. Haveria então uma nova era, talvez já prevista por José Saramago em seu magnífico livro "Ensaio Sobre a Cegueira", onde a população (de uma meneira diferente) teria essa tal cegueira branca, como se enxergasse um mar de leite... uma brancura leitosa total.
A pobreza reinaria. Quais cofres eletrônicos ou bancos 24 horas funcionariam para que sacássemos o "pão-nosso de cada dia"? Débito em conta? Cartão de crédito? Rá... Isso seria coisa do passado e o que pensamos hoje que faz parte da modernidade ficaria apenas na lembrança de um passado remoto de uma era em que o homem era capaz de dominar as máquinas. Talvez, a parada brusca de todas as máquinas seja/seria a Revolução das Máquinas tão citada em livros e filmes de ficção. Tudo isso que usamos hoje, chamadas de comodidades (ou facilidades) da vida moderna, de nada teria serventia.
Depois de sofrermos todo o processo evolutivo ao longo de milhares de anos, entraríamos num hiato produtivo em que teríamos de nos adaptar a uma nova forma de lidar com a natureza e com o próprio homem. Lembrando que o homem faz parte da natureza, apesar de muitos não se lembrarem ou, muito pior, fazerem questão de esquecer.
Desde que o mundo é mundo sempre houve momentos de crise, seja ela econômica/financeira, cultural (artística, literária etc.), religiosa e outras tantas. Os egípcios foram capazes de construir, com a tecnologia disponível na época, tantos monumentos que até hoje não se tem certeza absoluta de como puderam ser construídos. Existem teorias. Os filósofos gregos da Antigüidade Clássica já supunham que a Terra movia-se em torno do Sol... idéia que depois foi desconstruída na Idade Média e só muito tempo depois, retomada. O politeísmo já tomou parte de tantas culturas (principalmente as antigas) e hoje, na nossa sociedade Ocidental domina a idéia do monoteísmo. Sem querer ofender nenhuma religião, mas trabalhando com fatos, grande parte dos católicos esquece que Jesus (personagem central da Bíblia) era judeu. E óbvio que, quando ele nasceu (segundo a Bíblia) o Cristianismo não poderia existir, já que ele era o Cristo. Portanto, Jesus não era cristão. Os monoteístas também se esquecem que eles são "parcialmente ateus" por crerem em menos deuses do que os politeístas. E os ateus só crêem em um deus a menos que os monoteístas e isso não nos torna (falo aqui como ateu) más pessoas.
Enfim: máquinas, ausência de máquinas, épocas de crise, religião... tudo parece ter sido dito num "Sábado de Aleluia".
Sobre as máquinas é importante termos certeza de que agora somos escravos da nossa própria criação. E se achamos que as dominamos é só pensar em viver sem elas...