sábado, 3 de abril de 2010

Ensaio: A Inexistência das Máquinas



Ensaio: A Inexistência das Máquinas
(Mateus Almeida Cunha)



Às vezes, penso em como poderia ser o mundo sem a existência das máquinas. Não máquinas como se costuma pensar nos filmes futuristas, mas máquinas comuns, coisas corriqueiras: computador, telefone, celular, televisão, câmera digital, rádio, automóveis, chuveiro elétrico, máquina de lavar roupas, relógio etc. Isso parece ser inimaginável e, de fato, é. Parece que tudo que poderia ter sido inventado já o foi até o final do século XX e, a partir de agora, só nos resta re-inventar... aperfeiçoar... dar melhor utilização... enfim...

Deve ser assustador se, um dia, ao levantar percebermos que não há mais como saber as horas pelo método "convencional" (ou tradicional: o relógio), pois ele não mais funciona. E aí, adeus compromissos: festas (casamentos, aniversários, batizados), aulas, trabalho, encontros com amigos ou romances. Catástrofe total!

Adeus também notícias pela televisão, rádio, internet... estaríamos ilhados. Destinados à própria morte, já que nem os aparelhos dos hospitais seriam capazes de funcionar. Se alguém adoecesse gravemente? Morte na certa...  E a "cegueira" parcial que haveria? Qual máquina seria capaz de produzir as lentes dos óculos? A visão do/de mundo para grande parte da população mundial estaria fadada a mudar, adaptando-se ao seu novo "foco". Qual foco? A distorção, posto que só ela reinaria. Haveria então uma nova era, talvez já prevista por José Saramago em seu magnífico livro "Ensaio Sobre a Cegueira", onde a população (de uma meneira diferente) teria essa tal  cegueira branca, como se enxergasse um mar de leite... uma brancura leitosa total.

A pobreza reinaria. Quais cofres eletrônicos ou bancos 24 horas funcionariam para que sacássemos o "pão-nosso de cada dia"? Débito em conta? Cartão de crédito? Rá... Isso seria coisa do passado e o que pensamos hoje que faz parte da modernidade ficaria apenas na lembrança de um passado remoto de uma era em que o homem era capaz de dominar as máquinas. Talvez, a parada brusca de todas as máquinas seja/seria a Revolução das Máquinas tão citada em livros e filmes de ficção. Tudo isso que usamos hoje, chamadas de comodidades (ou facilidades) da vida moderna, de nada teria serventia.

Depois de sofrermos todo o processo evolutivo ao longo de milhares de anos, entraríamos num hiato produtivo em que teríamos de nos adaptar a uma nova forma de lidar com a natureza e com o próprio homem. Lembrando que o homem faz parte da natureza, apesar de muitos não se lembrarem ou, muito pior, fazerem questão de esquecer.

Desde que o mundo é mundo sempre houve momentos de crise, seja ela econômica/financeira, cultural (artística, literária etc.), religiosa e outras tantas. Os egípcios foram capazes de construir, com a tecnologia disponível na época, tantos monumentos que até hoje não se tem certeza absoluta de como puderam ser construídos. Existem teorias. Os filósofos gregos da Antigüidade Clássica já supunham que a Terra movia-se em torno do Sol... idéia que depois foi desconstruída na Idade Média e só muito tempo depois, retomada. O politeísmo já tomou parte de tantas culturas (principalmente as antigas) e hoje, na nossa sociedade Ocidental domina a idéia do monoteísmo. Sem querer ofender nenhuma religião, mas trabalhando com fatos, grande parte dos católicos esquece que Jesus (personagem central da Bíblia) era judeu. E óbvio que, quando ele nasceu (segundo a Bíblia) o Cristianismo não poderia existir, já que ele era o Cristo. Portanto, Jesus não era cristão. Os monoteístas também se esquecem que eles são "parcialmente ateus" por crerem em menos deuses do que os politeístas. E os ateus só crêem em um deus a menos que os monoteístas e isso não nos torna (falo aqui como ateu) más pessoas. 

Enfim: máquinas, ausência de máquinas, épocas de crise, religião... tudo parece ter sido dito num "Sábado de Aleluia". 

Sobre as máquinas é importante termos certeza de que agora somos escravos da nossa própria criação. E se achamos que as dominamos é só pensar em viver sem elas... 

domingo, 28 de março de 2010

Poesia: Sobrevivo (Edna Almeida Cunha)

É com muita satisfação (e orgulho) que faço a primeira postagem de um poema inédito, de autoria de minha mãe (Edna), digno de ser publicado. Quando, hoje à noite, ela me mostrou, terminei de lê-lo com os olhos banhados em lágrimas, em meio a um estado de transe. Extasiado! Cada palavra dita carrega outras tantas não-ditas....  malditas. Ele é um soco no estômago! Lindíssimo! 






Sobrevivo
(Edna Almeida Cunha)


Sobrevivo!
Apesar desse vazio
que habita em mim.
Esse silêncio, esse nada
esse espaço oco
que não me abandona...
Sobrevivo!



Além ou aquém
desse abismo
que me separa do resto do mundo;
abismo invisível...
porém intransponível.
Ainda assim
Sobrevivo...



Mesmo com essa falta
constante e insistente,
de alguém ou
será de alguma coisa?


Nesse espaço desocupado,
abandonado, escondido,
perdido, despercebido
desse jeito
Sobrevivo!