Escrever é uma disciplina. É uma disciplina que exige muito esforço e causa muita dor. Até que ponto pode ser libertador aprisionar-se para sempre em palavras mal-ditas (malditas)?
Palavradois
Pensamentos, críticas, música, literatura: poesias, contos, crônicas...
segunda-feira, 31 de março de 2014
sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Fundo Sem Fundo
Fundo Sem Fundo
[Mateus Almeida Cunha]
Poço, poço
fundo, fundo,
mais que fundo.
Mais fundo que o fundo.
mais que fundo.
Mais fundo que o fundo.
Imundo
poço sem fundo
inundo
no fundo
o poço
o fosso
a fossa
o poço
o fundo do poço que inundo
fundo
afundo no poço
sem fundo.
Imundo
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terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Divagações
"Para lembranças inesquecíveis de amores impossíveis, feridas incuráveis. Quanto ao resto, o tempo"
Mateus Cunha
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
Crônica - A Carcereira ou O Hospital
Crônica: A Carcereira ou O Hospital
(Mateus Almeida Cunha)
"- Marcos Gabriel Teixeira!"
Gritou a segurança do hospital que segurava com força o portão pesado de ferro, desgastado pela falta de manutenção. E o segurava como se fosse propriedade sua, parte de seu próprio corpo. E abriu o portão para o rapazinho que passava sem acompanhante, se contorcendo de dor. Parecia uma carcereira, aquela dona, de olhar ranzinza e repreensivo para com aqueles que tentavam forçar a entrada na ala proibida do hospital público. A ala dos doentes, que não podiam entrar com acompanhantes por limitações de espaço no hospital lotado.
Não me agradava ouvi-la aos gritos chamando nomes, enquanto a placa ao seu lado dizia baixinho, "Silêncio!". O desconforto das cadeiras gélidas e quebradas, onde mal podia me recostar tornaram a espera mais cansativa (e dolorosa) ainda.
Apesar do livro que carregava, nada mais me interessava a não ser olhar aqueles doentes que estavam ao meu lado, atrás, na frente, aos montes. Desisti da leitura e me concentrei em perceber sutilezas que me cercavam. A senhora gorda e de vestido floral (de muito mau-gosto) que estava ao meu lado parecia estar concentradíssima no Capítulo 14 de um livro desconhecido que, até então, meus olhos de águia não puderam identificar. O que me surpreendeu mais foi o clipe de papel gigante que parecia tomar quase metade da folha, qual tamanho descomunal possuía. Era uma marcador de páginas. Parecia mais um marcador de livro. Aquele livro que estivesse, entre tantos outros, na estante, perdido, fechado, poderia ser rapidamente encontrado pelo objeto enorme que se agarrava às suas páginas.
Os olhares tristes e cinzentos me seduziam. Eu, que naquele lugar, naquele momento, era acompanhante de minha mãe. A criança que berrava, a ambulância que chegava à porta com a sirene aos berros, enquanto saía uma maca, veloz como um foguete, de dentro daquele baú e se atirava em alguma sala que não podia ver. Maldita carcereira que não nos deixava entrar. E ficávamos todos com os olhos murchos, ávidos por qualquer movimento no portão que indicasse que alguém estava por sair, são e salvo. Curado ou, pelo menos, sem dores. Podia ser minha mãe. Mas não era.
A senhora gorda de vestido floral, que nunca saberei o nome, continuava a concentrar-se naquele livro misterioso que carregava entre olhares vidrados. O que seria? O livro sagrado de alguma religião que frequentava? A Bíblia, o Alcorão, o Vedas, o Torah? E meu olhar curioso se fixava cada vez mais naquele livro. Ela parece ter-se cansado por instantes e rapidamente o fechou. Pude ler na capa: Cinquenta Tons Mais Escuros. Agora entendo por quê tanta concentração. O que estariam fazendo ali, naquele momento, as personagens depravadas?
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Poesia - Sobre a Solidão XI
Sobre a Solidão XI
(Mateus Almeida Cunha)
A noite
A noite basta
A noite basta para nos consolar
A noite basta para nos consolar na melancolia
A melancolia
A melancolia em si
A melancolia em si, existe
A melancolia em si, existe e resiste
A solidão
A solidão na noite
A solidão na noite da melancolia
A solidão na noite da melancolia insiste
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Poesia - Sobre a Solidão X
Sobre a Solidão X
(Mateus Almeida Cunha)
O outro
O outro corpo que se lança no escuro
Atiça
O outro
O meu corpo que se lança no vazio
Atira
O outro
O outro corpo que se roça no meu
Atiça
O outro
O outro corpo que se espelha no meu
Mira, atira, acerta
O espelho em pedaços
em mil, em mim
os cacos, o corpo
o outro eu.
Vivos, partidos, aos pedaços
é o que estamos.
"Mas estamos vivos ainda"
[Citação da canção "Natália", de Legião Urbana]
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Poesia - Sobre a Solidão III
Sobre a Solidão III
(Mateus Almeida Cunha)
Se houvesse poço,
qual poço?
Se tivesse fundo,
qual fundo?
Se houvesse o fundo do poço,
o vazio, no fundo.
A queda,
o grito,
a lágrima,
o silêncio.
O fundo do fundo.
O fundo, no fundo do poço
O levantar,
o cair
O fundo, no fundo
o poço
A lágrima, o poço
O poço de lágrimas e silêncio.
Aqui jaz o silêncio, bem no fundo do fundo
Do fundo do poço, o poço.
A queda.
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terça-feira, 24 de setembro de 2013
A Volta
Há exatamente um ano fiz a última postagem no Blog. Durante esse tempo, ele não morreu: estava adormecido. Quando leio, não escrevo. E, quando escrevo, não leio. Prefiro não sofrer influências. O período de amadurecimento deu-se por todo esse tempo. Agora voltarei a, enfim, escrever.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Divagações: Expressões
A auto-censura pode não ser suficiente. Há dias em que é preciso gritar.É
preciso escrever para expressar. Creio que as máximas expressões são a
escrita, a pintura e a música, não necessariamente nessa ordem. Autoidentificar-se é não reconhecer-se em outrem.
sábado, 15 de setembro de 2012
Ensaio Sobre a Morte I Ou Ensaio Sobre a Morte na Era Pós-Moderna I
Ensaio Sobre a Morte
I
Ou
Ensaio Sobre a Morte
na Era Pós-Moderna I
(Mateus Almeida Cunha)
Como se faz para morrer nos dias
de hoje? Ninguém mais morre. Temos álbuns intermináveis de fotos digitais, com
família, amigos, cachorros, gatos, coelhos, lugares, pés, para-choques de caminhões,
janelas de aviões, bancos traseiros de veículos, mares, montanhas, museus,
boates, Feiraguais, espelhos... Ah, as fotos nos espelhos... E são tantas! Individuais,
duplas, trios, grupais, partes do corpo, músculos (tendo-os para esbanjar ou
não), corpinhos gostosinhos (mesmo que se tratem de pneus bem localizados),
beijos, bonés, franjinhas, dedos nos lábios... É como um Kama Sutra Ocidental
moderno, como forma de autopromoção para a sensualidade (forçada) das partes (entendam:
pessoas) que poderiam (poderão?) vir a se interessar.
E temos Orcutes, Feicebuques,
Tuíteres, Picazas, Blogues, Instagrans, Iscúbes, Línquede-im, Dropebóxeres, Aifones,
Aipedes, Uátizape. Aos que não entenderam, leia-se, necessária e obrigatoriamente
nesta ordem: Orkut, Facebook, Twitter, Blog, Instagram, Skoob, Linked-In,
DropBox, iPhone, iPad, Whatsapp. E temos também vídeos. Ah, sim, muitos deles!
Tantos vídeos e fotos que, mesmo perdendo grande parte deles, nem sentimos
tanta falta assim. Quer dizer que se os perdemos e não nos demos conta, talvez
não tenham sido tão importantes assim. Teriam? Seriam?
E quem, quando morrer, lerá meus
e-mails e responderá aos que (desavisadamente) ainda me enviariam coisas? A
Morte talvez respondesse: “- Aqui não há mais Mateus. Agora ele não mais está.
Foi um dia, mas hoje já não é. Já não está. Encontra-se noutro lugar. Assinado,
Morte”. A mesma Morte com eme maiúsculo, como narrou Saramago. A mesma Morte
capaz de se apaixonar pelo seu alvo. Apaixonaria-se a morte por criaturas
mundanas e deixá-la-ias viver para a eternidade, até que seus corpos
definhassem e vos clamasse que findasse suas vidas?
Hoje já não se morre, com tanta
tecnologia. Hoje já não se consegue sentir tanta saudade. Sente-se? Para os (ainda?)
vivos, há celulares e internets com webcams para aproximar aquilo que a saudade
quis que os corpos não se soubessem... não se tocassem. Não se sentissem. Mas,
ainda assim, sentem-se. É bem verdade o que escreveram soube a saudade: que
quem inventou a saudade não conhecia a distância. Talvez não conhecesse também
o tempo. Esse tempo (cruel) que passa e nos faz envelhecer. Esse mesmo tempo
crudelíssimo que nos (re)forma (ou deforma?) ao longo dos anos. Esse mesmo
tempo que, após a juventude – nossa idade fértil – faz com que a beleza se
esvaia. E isso dói. É aquilo que, com o espelho, vemos degradarmo-nos. Vemos
nossa figura enrugar-se, encurvar-se, como num ato simbólico, diante do Senhor
Tempo, como que reconhecendo a sua superioridade. “ – Sim, Senhor. Morreremos.
Não, não senhor, não o gostaríamos, mas se for da nossa vontade, iremos
acostumarmo-nos com a degradação de nossas figuras”. Ah, o tempo... Por que não
nos carregas em seus braços e nos acalanta? Mas parece empurrar-nos de um
penhasco diante de lanças cobertas de sei lá o quê. Parecem inofensivas, mas,
por baixo delas há o que fere. Mas, o que temer, se nossas figuras ainda
parecerão jovens diante dos que ficam? E esse tempo que passa verazmente a nos
atormentar? Que me venham, então, a morte e o tempo. Este,
antes daquele, pois ainda há muito que viver. E, como se costuma dizer, “só nos
resta viver”.
Madrugada (insone) de 14/15 de
setembro de 2012.
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Sobre a Morte
domingo, 20 de maio de 2012
Poesia: Cantiga Para Não Morrer [Ferreira Gullar]
Cantiga Para Não Morrer
[Ferreira Gullar]
"Quando você for se embora,
(...)
me leve
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
(...)
me leve no coração
Se no coração não possa
por acaso me levar,
(...)
me leve no seu sonhar
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
(...)
me leve no esquecimento"
[excerto de "Cantiga Para Não Morrer", de Ferreira Gullar]
Poesia: Sobre a Saudade X
Sobre a Saudade X
[Mateus Almeida Cunha]
O Sol já se pôs meu bem
E você não vem...
É tão tarde!
E amanhã também,
você não vem?
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Sobre a Saudade
quinta-feira, 19 de abril de 2012
Poesia: Sobre a Saudade VI
Sobre a Saudade VI
[Mateus Almeida Cunha]
Saudade,
saudade,
uma
ausência de verdade
ou
uma pseudo-solidão?
Saudade,
saudade,
um
não completar-se de
não tão rara emoção
Saudade,
saudade,
embora
pareça eternidade
nada
mais que sensação
Saudade,
de
pensamento de outrem,
solidão
Saudade,
de
tanto corroer-se em
emoção
Saudade,
Uma
indescritível
Sensação
De
tanta dor,
Silencia-se
Só
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Sobre a Saudade
Poesia: Sobre a Saudade V
Sobre a Saudade V
[Mateus almeida Cunha]
“De repente,
nunca mais esperaremos”
De repente, nunca mais seus olhos a me penetrarem
De repente, nunca mais seus olhos a me penetrarem
De repente,
nunca mais sua voz a me chamar
De repente, nunca
mais seus lábios nos meus
De repente,
nunca mais sua mão macia sobre meu corpo nu
De repente,
nunca mais seus seios em minhas mãos
De repente,
nunca mais estaremos
De repente, se
acabou
De repente,
sua ausência
De repente, se
finda uma vida
De repente,
a solidão
e
De repente, se
acostuma
De repente, se
solidifica
De repente, se
petrifica
De repente,
não tão de repente
De repente, outro
amor
De repente,
outra dor
De repente, não
se acostuma
De repente,
não mais se satisfaz
De repente,
outra separação
De repente, “tudo
dói”
[Citações:
Vinícius de Moraes, "Poema de Natal"
Caetano Veloso, "Tudo Dói"]
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Sobre a Saudade
Poesia: Tarde em Mangue Seco
Tarde em Mangue Seco
[Mateus Almeida Cunha]
Mar, maresia, uma miragem.
A água salgada sob o Sol reflete o dia
em movimento com as ondas a nos embalar
e transcender à paisagem estática
que lentamente carrega as nuvens que sombreiam os corpos seminus
que sentem a fina areia fria sob os pés descalços.
Percauços.
As ondas, de espumas brancas,
misturam-se em cores com o azul-marinho
e dissolvem as esculturas de areia
que as crianças formam, tao disformes,
ao longe, ao mar,
Ah, amar
As esculturas
estão constantemete a desconstruirem-se,
com o embalo sutil das ondas
que lhe levam sua matéria-prima,
areia
Não há relógios a contar o que está a ocorrer,
cujo tempo parece permanecer estático, nulo, único,
para deleitarmo-nos, enquanto carros e assaltos e motos e bancos e lojas e avenidas
enchem as cidades que fugimos.
A água salgada sob o Sol reflete o dia
em movimento com as ondas a nos embalar
e transcender à paisagem estática
que lentamente carrega as nuvens que sombreiam os corpos seminus
que sentem a fina areia fria sob os pés descalços.
Percauços.
As ondas, de espumas brancas,
misturam-se em cores com o azul-marinho
e dissolvem as esculturas de areia
que as crianças formam, tao disformes,
ao longe, ao mar,
Ah, amar
As esculturas
estão constantemete a desconstruirem-se,
com o embalo sutil das ondas
que lhe levam sua matéria-prima,
areia
Não há relógios a contar o que está a ocorrer,
cujo tempo parece permanecer estático, nulo, único,
para deleitarmo-nos, enquanto carros e assaltos e motos e bancos e lojas e avenidas
enchem as cidades que fugimos.
[Feito em Mangue Seco, numa tarde na praia]
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sexta-feira, 6 de abril de 2012
Poesia: Sobre o Amor I
SOBRE O
AMOR I
[Mateus Almeida Cunha]
[Mateus Almeida Cunha]
Na vastidão
da plenitude,
o amor
Aquilo que
nada se sabe.
Aquilo que
tudo se sente.
Aquilo que
nada ressente.
Na imensidão
da quietude,
o amor
Aquilo, de
dentro, emoção.
Aquilo que
poucos sentirão.
Aquilo que vibra,
pulsação.
Entre
poucos, se ama.
Na amplidão,
o amor não trai.
Entre
tantos, se ama.
Na amplidão,
o amor não se esvai.
Entretanto,
se ama.
Na amplidão,
o amor .
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