domingo, 15 de agosto de 2010

Crônica: A Hora Íntima (Partes 1, 2 e 3)

CRÔNICA:
A HORA ÍNTIMA - Partes 1, 2 e 3



A HORA ÍNTIMA – PARTE 1: PESSIMISMO

Não, não venham me contar que a passagem do tempo é maravilhosa, porque isso é uma grande falácia. Não é possível que não consigam perceber a grande tragédia que há nisso. Os cabelos brancos que insistem em nascer em plena “vintolescência” (a época dos vinte aos vinte e nove anos, após a adolescência, mas ainda com vestígios significantes desta idade). Aquelas amigas lindas que se têm e que surgem espantosamente grávidas e, por mais que a gravidez seja uma coisa maravilhosa, as deformam por um grande tempo. Sim, deformam! Aquela esfera suntuosa que vai crescendo indefinidamente por nove meses até não mais caber a ponto de explodir levando pedaços de corpo consigo amarradas a uma criaturinha capaz de respirar, emitir sons e conseguir, sozinha, encontrar os seios fartos de leite para saciar sua fome e sede. Aqueles amigos de longas datas que, por sorte ou ironia do destino traçaram caminhos distintos e, quando os encontram estão irreconhecíveis, devido às transformações físicas. Se achamos isso deles, o que acharão de nós, reles mortais em meio ao tempo que nos transforma...

Basta olhar para as fotografias antigas, na época chamadas de “retratos” (detalhe) e ver os pais e tios, em plena forma física, corpinho sarado, barriguinha definida (à moda da época, mas ainda assim está valendo), vestidos naquelas roupas horrorosas que não vêm ao caso. E hoje, sessentões, setentões em plena forma de “coroas em cima” ou de “conservados”. Nunca consegui identificar ao certo se “conservado, quando referido a alguém, quer dizer um elogio ou uma grosseria disfarçada. Se, por um lado, significa dizer que a sua aparência está ótima e lhe tecem de elogios, porque você está “conservado” ou ainda “conservadíssimo”, enchendo os lábios, principalmente das mulheres, de sorrisinhos discretos e pouco disfarçados, por outro significa que “apesar” da sua idade, você está bem. E isso, geralmente não se pensa. Ou ainda, se pensam nisso, preferem não comentar e ficam apenas com a primeira opção. É isso: restam ainda alguns incertos (e cruéis) anos que nos virão até nos carregarem ao leito do único destino que há a nos esperar...


A HORA ÍNTIMA – PARTE 2: REALISMO

Sim, como o tempo passa. É verdade que “inda ontem” era um bebezinho e hoje está aí, no auge dos seus vinte anos. Tem um ótimo emprego, apesar de não ser remunerado como deveria, isso é verdade, mas ganha bem. Ganha o suficiente para uma pessoa solteira se sustentar com bastante folga, sim, por vezes o dizem. E quanto às gravidezes das jovens? Ah, sim, poderiam esperar um tempo mais, por que não? Mas se isso lhe veio cedo, isso pode ter sido bom. Quiçá nunca mais tivesse filhos, assim como sua tia, que ficou “seca” e solteira. Ao menos terá alguém que lhe socorra na velhice. Nunca se sabe, nunca se saberá... Aliás, ainda bem que não se sabe do futuro.

Quando se olham os “retratos” antigos da família, se vê como eram unidos. Por certo que hoje, cada um “foi para o seu lado”, mas ainda temos os momentos que passamos juntos: o Natal e... bem, o Natal apenas. Mas é isso mesmo, o que há de se esperar? Que todos fiquem dependentes sempre? Cada um tem a sua vida, o seu ritmo. E o que importa é que somos uma família. Isso é clássico de famílias ditas tradicionais.

Vejam os amigos de nossos pais, como estão todos conservados. É certo que não possuem mais “a beleza da juventude” e carregam consigo algumas marcas do tempo indicando a experiência, a maturidade, mas estão muitíssimo bem. Têm saúde e isso é o que importa!


A HORA ÍNTIMA – PARTE 3: OTIMISMO

Ah, essa juventude... cheia de virilidade. Olhem aquelas jovens grávidas, que lindas! É melhor ter filhos na juventude, para poder vê-los crescer, acompanhar de perto cada instante do seu crescimento, brincar com eles, ter “pique” para levá-los aos shows que quiserem. Ah, esses meninos... e como gostam de se divertir. São incansáveis! Não há nada mais realizador que ver os filhos crescer, atingirem a juventude e chegarem à idade adulta com saúde e dignidade. Quantos são os que se perdem nesse caminho...

E a idade dos seus vinte anos? Fantástica! São independentes, ainda que vivam conosco, estão terminando os estudos ou estão formados, têm seus salários. Saem com os amigos, se divertem, é claro que bebem um pouco a mais do que bebíamos na nossa época, mas os jovens “de hoje” são assim mesmo. É claro que, nessa idade, pela sapiência da natureza, possuem os corpos bonitos, para causar a atração sexual e poderem se reproduzir devidamente. Estão completamente formados e prontos para perpetuar a espécie.

É sempre bom rever a família nessas festividades de final de ano, porque durante o ano é impossível. É bom ver que a família permanece unida sempre, apesar da distância. A festinha de amigo secreto serve muito pra isso também: descontrair. É só olhar e ver que todos estão muitíssimo bem!

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