segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Crítica: A Confissão de Lúcio (Mário de Sá Carneiro)



A Confissão de Lúcio
(autor: Mário de Sá Carneiro)




O poeta e escritor português Mário de Sá Carneiro possuiu uma vida muito conturbada, cheia de adversidades. O autor, por si mesmo era conflituoso, talvez pelo fato de ser homossexual numa época em que a sociedade era tão conservadora. Foi contemporâneo (e amigo) de Fernando Pessoa e, pouco antes de morrer, escreveu algumas cartas para esse, afirmando que não estava mais resistindo. Depois, resolveu vestir um smoking e se suicidou no quarto de um hotel, antes de completar seus 26 anos.

A cantora e compositora Adriana Calcanhotto musicou um de seus poemas, intitulado "O Outro":

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio.
Que vai de mim para o Outro.



Na novela "A Confissão de Lúcio", Mário de Sá Carneiro apresenta a história de um escritor que inicia a história contando que foi preso por dez anos, por conta de um crime, considerado passional, que não cometeu. Mas que, por ser inverossímil, nem valia a pena defender-se.

Tudo começou quando muda-se com um amigo (o escultor Gervásio) para Paris, para cursar Direito e, numa festa promovida por uma estadunidense ("americana") muito liberal conhece o poeta Ricardo de Loureiro, com quem mantém uma relação de amizade profunda ao longo do tempo.

Há um tom de homossexualidade em vários trechos, dentre eles:

“Mas uma criatura do nosso sexo, não a podemos possuir. Logo eu só poderia ser amigo de uma criatura do meu sexo, se essa criatura ou eu mudássemos de sexo.”

Passados alguns acontecimentos, ele e Ricardo se separam (o poeta volta para Lisboa) e depois se reencontrarem. Ricardo está morando com Marta, uma mulher que desperta o interesse e a curiosidade de Lúcio, por não saber a sua verdadeira origem. Quando o poeta retornou de Lisboa, Lúcio afirma:

"As suas feições haviam-se amenizado, acetinado - feminilizado, eis a verdade."

Ele e Marta tornam-se amantes e depois ele descobre que ela também possui outros amantes além dele, com o provável consentimento de Ricardo. Há um triângulo amoroso entre Lúcio, Ricardo e Marta. Lúcio irrita-se com a falta de orgulho de seu amigo e foge de todos até que, um dia, sem esperar, reencontra-se com seu velho amigo Ricardo... 

Ricardo, toma-o pelo braço e leva para a sua casa. Chegando lá, veem Marta segurando um livro. Ricardo pega uma arma do seu paletó e desfere sobre Marta:

"E então foi o Mistério... o fantástico Mistério da minha vida...

Ó assombro! Ó quebranto! Quem jazia estiraçado junto da janela não era Marta - não! - era o meu amigo, era Ricardo... E aos meus pés - sim, aos meus pés! - caíra o seu revolver ainda fumegante!...”

Marta desaparece como uma ilusão e Ricardo morre com o tiro desferido nela. É como se Marta fosse o próprio Ricardo, recriado por ele próprio para poder ter uma relação homoafetiva com o seu amado amigo Lúcio.

Esse livro é muito bom!


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