sexta-feira, 6 de abril de 2012

Ensaio Sobre a Afinidade




ENSAIO SOBRE A AFINIDADE
[Mateus Almeida Cunha]


Conhece-se. Gosta-se. Convive-se. Decerto que nem sempre as coisas ocorrem assim. Talvez pela ausência de afinidade. Afinidade. Como defini-la? Talvez afinidade seja aquilo que se sente com alguém que se gosta, tal qual a empatia. Tal qual um querer. Tal qual um estar perto, fazer-lhe bem, convidar-lhe ao convívio. Como se não precisassem falar, e seus assuntos fluíssem de forma “averbal” (com o perdão do neologismo). Como se se soubesse o que o outro diz, gosta, faz, sente, reage. Como se não se precisasse mentir. Como se sempre se despissem verbalmente, numa enxurrada de pensamentos indizíveis. Afinar-se. Completar-se. Refugiar-se. Como se se soubesse de tudo e, ainda assim, houvesse algo para completar. Não possuir um ponto final. Viver em ponto de seguimento infinito. Viver em vírgulas, em reticências e gostar das exclamações. E quantas! Oh, quantas!

“Amigos não se faz, se reconhece” [Vinícius de Moraes]. Afinidade não se busca, se possui, muito antes mesmo de se tê-la. Afinidade é algo que atrai, que marca, que seca, que pesa. Afinidade é saber conviver. É saber entender. É saber respeitar. É saber quando opinar. É saber o que opinar. Afinidade pode ser um hiato de meses sem comunicação devido a alguma ausência e, quando da presença, uma verborragia como se houvessem conversado no dia anterior, na hora anterior, ou mesmo se nunca tivesse tido separação. Afinidade é ter fluência. Enfim, afinidade é fluir-se em outrem.

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