ENSAIO
SOBRE A AFINIDADE
[Mateus Almeida Cunha]
Conhece-se. Gosta-se. Convive-se. Decerto
que nem sempre as coisas ocorrem assim. Talvez pela ausência de afinidade.
Afinidade. Como defini-la? Talvez afinidade seja aquilo que se sente com alguém
que se gosta, tal qual a empatia. Tal qual um querer. Tal qual um estar perto,
fazer-lhe bem, convidar-lhe ao convívio. Como se não precisassem falar, e seus
assuntos fluíssem de forma “averbal” (com o perdão do neologismo). Como se se
soubesse o que o outro diz, gosta, faz, sente, reage. Como se não se precisasse
mentir. Como se sempre se despissem verbalmente, numa enxurrada de pensamentos
indizíveis. Afinar-se. Completar-se. Refugiar-se. Como se se soubesse de tudo
e, ainda assim, houvesse algo para completar. Não possuir um ponto final. Viver
em ponto de seguimento infinito. Viver em vírgulas, em reticências e gostar das
exclamações. E quantas! Oh, quantas!
“Amigos
não se faz, se reconhece”
[Vinícius de Moraes]. Afinidade não se busca, se possui, muito antes mesmo de
se tê-la. Afinidade é algo que atrai, que marca, que seca, que pesa. Afinidade
é saber conviver. É saber entender. É saber respeitar. É saber quando opinar. É
saber o que opinar. Afinidade pode ser um hiato de meses sem comunicação devido
a alguma ausência e, quando da presença, uma verborragia como se houvessem
conversado no dia anterior, na hora anterior, ou mesmo se nunca tivesse tido
separação. Afinidade é ter fluência. Enfim, afinidade é fluir-se em outrem.
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