quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ensaio: Sobre a Existência (ou Sobre a Resistência)

Ensaio Sobre a Existência 
(ou Sobre a Resistência)
[Mateus Almeida Cunha]



Existe-se. Apenas isso: existe-se. E nada mais se sabe. Nada mais se saberá ou se quererá saber: existe-se. Sabe-se que se vive, sabe-se que se morre e sabe-se que não se sabe. Nada (ou quase nada) se sabe ou se saberá (espanto!). Existe-se. Resiste-se.

E como num vão suspiro, num átimo, sobrevivo. Apenas isso: sobrevivo. Em meio a olhares fugidios de cidadãos desconhecidos, ouso lançar olhares flertivos a quem me interessa. Por ora, nada tenho feito, já que nada (mais) me interessa. Já que nada me toca e numa tentativa anti-blasè, me espanto. Mas, nada mais me admira, pois há anos tenho-me admirado a cada dia, esgotando-me lentamente. Seria a velhice o ápice da ausência total de sentimentos, gastos por toda uma vida? Seria a escolha que se faz, uma própria não-escolha que não se escolhe? Existe-se. E apenas isso: vive-se. Sobrevive-se.


"Se você gostou muito do dia, então viva outro melhor"¹. Conseguem-se dias melhores? Como fazê-los? E se os fazemos, como permanecê-los ou, melhor, como congelá-los se somos a cada dia (im)postos a descer nessas "escadas rolante da  gente"¹? Como se esquecer daquela angústia que ficou e, se não ficou, como saber mastiga-la, degluti-la, digeri-la, expeli-la? Porque existimos. Porque queremos existir e, se não o fazemos, atropelamo-nos ou atropelam-nos. A verdade é que estamos sendo atropelados a cada dia. E se não o queremos, como não permiti-lo? Existimos. Repetimos.
  
Deve ser frustrante não se fazer o que se gosta. Deve ser frustrante não conseguir fazer o que se quer. Porque somos frustrados. Porque, lá no fundo, temos um sonho idealizado, não realizado. Porque lá no fundo, dói não executá-lo. Porque dói não expô-lo da forma que se queria. Que se gostaria. Que se quereria. Enfim, que se realizaria. Porque somos frustrados e frustramo-nos pelo fato de sê-lo. Porque não somos o que somos. E, se somos, apenas isso: somos. Somos? Existimos e frustramo-nos.

Felicidade? O que é ser feliz? "Ser feliz serve pra quê", Clarice [Lispector] O que basta para se tornar feliz? Sim, Foucault, "o que estamos fazendo de nossas vidas?". O que queremos de nossas vidas? O que tentamos? O que somos? O que queremos? O que partimos? O que morremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? O que faremos? 


Desespêro. Desespéro (acentuação graficamente incorreta, mas necessária para o entendimento - se é que algo aqui é entendível e se é que a vida, per si, é entendível). Desesperamo-nos quando não sabemos o que fazer. E gritamos e choramos e pedimos e sentimos e fugimos e perdemos e não sabemos. E existimos. Apenas isso: existimos nessa visão existencialista tendendo ao pessimismo. Existimos? Resistimos. Frustramo-nos e resistiremos. Enfim, isso é a existência: a plenitude que não se completará jamais.

¹Excerto da canção "As Escadas Rolantes da Gente", de Victor Longo


Escrito integralmente no celular, durante o show de Vitor Passos e Victor Longo, no Rio Vermelho, em 18/10/2011. Pena que, devido a uma pane no celular, perdi uma boa parte do texto (cerca de dois parágrafos).

Nenhum comentário:

Postar um comentário